CAMINHANDO E CONSTRUINDO CAMINHOS

João Santiago, poeta e militante, faz um balanço do V encontro Intereclesial estadual do Paraná. Com o tema, CEBs, Ecologia e Missão” e o lema, Do ventre da terra o grito que vem da Amazônia, ousamos nos desafiar a olhar nossos passos, à luz das sagradas escrituras, com o olhar dos pobres e excluídos. Éramos 1050 participantes. Homens mulheres, jovens e crianças. O encontro aconteceu de 19 a 21 de Abril e para a igreja do Paraná, foi e será, um excelente subsídio para o XII Intereclesial nacional em Porto Velho, Rondônia, em 2009." (clique no título para ler a matéria toda)

O século XXI ou será místico ou não será humano. O século XXI cristão optará pelos excluídos ou não será cristão. O século XXI cristão ou será ecumênico ou não será eclesial. O século XXI ou será ecológico ou simplesmente não será”.

Dom Pedro Casaldáliga

O trem das Comunidades Eclesiais de Base do Paraná – CEBs-PR – fez mais uma parada para reflexão. Desta vez foi na estação Foz do Iguaçu. Celebramos o nosso V encontro Intereclesial estadual do Paraná. Com o tema, “CEBs, Ecologia e Missão” e o lema, “Do ventre da terra o grito que vem da Amazônia”, ousamos nos desafiar a olhar nossos passos, à luz das sagradas escrituras, com o olhar dos pobres e excluídos. Éramos 1050 participantes. Homens mulheres, jovens e crianças. O encontro aconteceu de 19 a 21 de Abril e para a igreja do Paraná, foi e será, um excelente subsídio para o XII Intereclesial nacional em Porto Velho, Rondônia, em 2009.

Tenho dito, que minha maior descoberta, foi como poeta. É assim que, como ser humano, busco comunicação com meus convíveres. Condição básica e irrenunciável para a humanização. Porem sinto-me muito honrado de ser construtor, operário, nos trilhos deste antigo e sempre novo jeito ser igreja. Onde, olhando a partir do local em que vivemos, somamo-nos a convicção bíblico-profética que, sem o povo, não há possibilidade de mudança. Por isso, entendemos a bíblia como: “o livro dos pobres, escrito pelos pobres, dizendo com os pobres, chega de pobreza”. Desta forma, como igreja libertadora, interpretamos o momento vivido pelo Brasil e pela América Latina, como sinal do desejo de mudança vindo de seu povo. Outra conclusão a partir deste olhar é que, somente fortalecendo os movimentos sociais alcançaremos as mudanças sonhadas.

Desnecessário dizer que, para quem vive intensamente, o momento histórico que vive o Brasil e seu povo, me senti em casa. Literalmente em casa, já que fomos acolhidos no jeito CEBs de acolher, nas casas das famílias. Sobretudo, como quem olha, ver e vive o Brasil, a partir da Rede de Educação Cidadã, RECID, como tenho vivido, foi um momento rico de reflexão. Como igreja povo de Deus concluímos: a teologia ou é da libertação ou não é teologia. A igreja ou assume compromisso com os pobres e com eles luta pela sua libertação ou estará em divida com o Reino. Que a ecologia nos desafia a estabelecer novo modo de se relacionar com a natureza e com os temas sociais. A termos uma nova consciência planetária. Que ou combatemos o modelo perverso de desenvolvimento capitalista ou ele nos destruirá. Que, portanto, ou teremos uma educação libertadora, uma Economia Solidária ou não sonharemos com Jesus de Nazaré, um sonho de justiça, no campo e na cidade. Que o trabalho é para libertar, não para escravizar. É um direito e não um castigo.

Impossível não lembrar da obsessão do presidente Lula de acabar com a fome, de superar a miséria. Preocupante ver que poucas pessoas conhecem, por exemplo, as oito metas do milênio adotadas pelo governo brasileiro. Gratificante sentir a sintonia entre as prioridades levantadas pelos grupos e os objetivos de desenvolvimento do milênio no Brasil. A saber: 1) acabar com a fome e a miséria; 2) educação básica de qualidade para todos; 3) igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde das gestantes; 6) combater a AIDS, a malária e outras doenças; 7) qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento. É significativo ver e ouvir os grupos dizendo que nosso desafio é transformar as políticas deste governo em políticas públicas, avançando em alguns métodos e construindo acessibilidade. Questionar com olhar crítico o modelo de desenvolvimento predatório, mas postar-se diante da realidade como sujeito e profetizar a vivência de uma democracia participativa.

Uma das prioridades tirada nos encaminhamentos do encontro foi o compromisso de criar e fortalecer pequenos grupos. Muitos! É assim que, como igreja missionária, acreditamos na conscientização, sobretudo de crianças e jovens, na educação Popular, como política pública, na mobilização social como força transformadora, para construirmos este novo Brasil que vemos ser gestado. A partir deste olhar é que vemos a Economia Solidária, a Educação Popular, as Comunidades Eclesiais de Base, os direitos humanos, os Fóruns Sociais Mundiais como sinais do Reino. Assumimos como igreja libertadora o compromisso a integralidade da vida. Os pobres são o clamor de Deus. Seu grito é grito e a indignação de Deus com as mais variadas formas de injustiça. O gemido da terra é o gemido de Deus que foi substituído, na sociedade tecnicista, por uma ciência arrogante e excludente. Assim, “brincando de Deus”, constrói abismos entre classes sociais e nações e culpa os mais fracos por sua situação vulnerável. Está a serviço de quem pode pagar e não de quem dela precisa.

Assumimos o compromisso de num só pensamento, num só coração, numa só força, combatermos o capitalismo com seu consumismo, exploração e mercantilização da vida. Concluímos que

consumir é nos consumirmos. Uma boa nova, a exemplo do que acontece na Rede de Educação Cidadã, nos grupos de Economia Solidária é participação da juventude. Muita gente jovem dizendo a sua palavra, soltando o seu grito e regando com a sua alegria, a esperança profética. Há inegavelmente uma energia nova na brasilidade vivida por quem escuta a voz que vem do povo. É este o ponto de partida também da Rede de Educação Cidadã – RECID – que, bebendo em fontes límpidas e seguras, como Paulo Freire, Josué de Castro, Darcy Ribeiro, Milton Santos, rejeita a culpabilidade criminosa dos pobres como responsáveis pelas iniqüidades do modelo capitalista. Antes, são vitimas. São violentados e não violentos. Seguimos com Dom Pedro Casaldáliga e tantos outros profetas sonhando e resistindo. Construindo e reconstruindo caminhos. Viva as Comunidades Eclesiais de Base! Viva a igreja povo de Deus! Viva o povo brasileiro! Viva o povo latino-americano.

Brasília, 01 de Maio de 2008.

João Santiago – Poeta e Militante. É teólogo e autor dos livros: Poesia e Militância; Vida e Poesia; e Chuvas de Prata – Reflexões de um Poeta pela Editora e Gráfica Popular. ([email protected])

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